Abaixo segue um fórum de perguntas e respostas de seguidores sobre saxofone, palheta, profissão, improvisação, músicos, espiritualidade e outros.
Pergunta: até onde a palheta influencia no nosso som? Teve dificuldade de achar a ideal?
Resposta: palhetas tem vida própria e são como alguns serumaninhos. Mas quando você acha uma ideal, poucos dias depois ela morre. Nenhuma é igual a outra. Eu apesar de saber, não mexo em palhetas, apenas toco, às vezes toco em umas que não estão boas, isso me força a conseguir melhores resultados. Mas não tenho uma ideal. Hoje uso mais a V21 2.5. Não sou adepto a paranoias e nesse aspecto sou mais rústico.
Pergunta: o que sugere para quem está pensando em dar um tempo na música (profissionalmente)?
Resposta: em matéria de finanças você tem que buscar o que te resolve. A música nunca sairá de você. Mas se não está sendo possível pagar as contas apenas com música então não há problema em buscar outra via. O problema é não ter como pagar contas. Por isso entrei no bombeiro para ser militar e servidor público além de músico. O que nos desonra é não ser responsável e não ampliar habilidades para viver melhor.
Pergunta: Palheta Sintética x Bambu, qual sua opinião sobre cada uma?
Resposta: estou querendo uma sintética para fazer alguns experimentos. Mas sempre usei as de bambu. Cada uma oferece sonoridades diferentes. Bambu é mais rústico e tradicional, oferece uma sonoridade que leva o sax a proposta mais voltada para um instrumento de madeira, já as sintéticas trazem um som mais voltado para um tipo de metal, misturado com plástico. Tive uma por muito tempo e perdi.
Pergunta: poderia explicar as sílabas que posso utilizar para melhorar a articulação do jazz?
Resposta: isso é muito subjetivo. As sílabas são imaginárias, mas eu aprendi a destacar ou pensar em quatro. Di-Ti-Te-Ta. Cada uma expressa uma intensidade de ataque partindo de muito brando para o martelato.
Pergunta: consigo criar solos na minha cabeça, mas quando tento passar para o instrumento, não flui. Dicas?
Resposta: isso é parte de um processo. Já viu uma criança de dois anos quando está começando a falar? Ela fala tudo embolado, porque já sabe o que quer dizer, mas a língua ainda não consegue estabelecer a palavra certa. O mesmo acontece nessa fase da improvisação. Você sente o som, mas não consegue expressar corretamente. Dicas? Não pare, continue porque está no caminho certo. Depois dessa fase que dura um tempo, as coisas vão fluir melhor.
Pergunta: Joshua Redman, o que acha?
Resposta: é diferenciado na criatividade, sensibilidade, sonoridade, observância na tradição e com olhos para as tendências de texturas, ritmos e outras particularidades. Foi para mim um dos pilares que construíram meu som e interpretação no tenor.
Pergunta: qual o problema que a galera tem com o Kenny G? Sempre vejo "debates" sobre ele, mas eu nunca descobri o motivo.
Resposta: não gaste energia pensando nisso. Não leva a nada. Mas se quiser mesmo ter uma concepção, o que aconselho é sempre pesquisar e entender as diferenças e diversidades que se manifestam em cada artista.
As pessoas gostam de promover o caos. Gostam de polêmicas e de ver o circo pegar fogo ou alguém na fogueira. Isso está intrínseco a nossa alma humana, a atenção as situações de desconforto ou desvantagem de alguém, porque reflete como espelho do que somos para promover essas coisas. Se escondem por trás de comentários e achismos. Mas a música mesmo não dá importância para essas fábulas urbanas. Isso serve mais para críticos de jornal. Nós que somos músicos devemos nos importar com o som e com o que pode ser aproveitado ao ouvir.
Pergunta: até hoje, qual foi o maior desafio da sua carreira?
Resposta: Ser músico militar, continuar sendo e vencer todos os conflitos psicológicos para isso. Não é fácil andar com a cabeça viajando o mundo e responder expediente todo dia, tocar repertório parecido por décadas. Mas o tempo nos molda e nos ajuda a evoluir ou piorar. No meu caso, acho que evoluí humanamente na profissão. Não tem nada a ver aqui com ser bombeiro, porque isso é honroso demais a cada dia, mas o que foi muito difícil foi adaptar minha cabeça às realidades do cotidiano. Mas sabe de uma coisa? Foi uma das melhores decisões que tomei na vida. Com o tempo aprendi, o sistema não é humano, mas humanos podem transformar o sistema e percebi nas fases que passei que quanto mais madura fosse minha cabeça, melhor seria para eu viver essa realidade. Então de fato, musicalmente esse foi acho que meu maior desafio, porque já durou 24 anos e é diário, todo dia vem com uma realidade diferente para adaptar. Porém, também é uma escola de vida que dura 30 anos para você receber o diploma e se formar.
Pergunta: a expressão anda junto com a ideia de impressionar ou às vezes tem que fazer algo mais simples? Isso quando você vê diferentes interpretações do que você está apresentando.
Resposta: não tem como calcular isso sobre impressionar alguém. Não acho que seja um bom objetivo porque você não tem como saber o que vai ser aprovado por tantas pessoas. A arte não trabalha assim, o business sim, mas eu penso mais na arte, porque o objetivo dela é a exposição para a apreciação, já o business, busca aceitação e por isso, às vezes se torna mais apelativo, compacto e raso em suas mensagens, porque calcula alcançar as massas com a pretensão que a maioria não tem senso de julgamento e não quer pensar, mas acho isso horrível. Penso o contrário das pessoas. Por isso, aposto na arte e que todos podem apreciar de diversas formas. Eu apoio a diversidade e sou contra o absolutismo. Quanto mais opiniões e posicionamentos melhor. Quem gosta ou quer controlar massas de pessoas pensa o contrário porque dá mais trabalho e chega a ser impossível. Prefiro apostar na individualidade elevada do que na escravidão mental.
Pergunta: para se profissionalizar na música teria idade? Visto desprendimento de tempo, para estudo e eventos?
Resposta: não tem idade. Eu comecei a ganhar dinheiro com música aos 11 anos. Se torna mais difícil equilibrar estudos e toda uma vida, mas estamos aqui para vencer dia após dia. Apenas não tenha medo de viver seus sonhos.
Pergunta: Mixolídio nos acordes dominantes de Garota de Ipanema?
Resposta: em alguns acordes sim, em outros não. Analisando pelo piano o Mixolídio só seria possível no sexto e oitavo compasso, C7. Nos demais dominantes da obra todos derivam para outras escalas.
Pergunta: o que você acha do Kenny G?
Resposta: escutei ele pela primeira vez em 1988, aos 12 anos. Não me atraiu, hoje sei porquê. Mas sabia que era muito famoso e um pop star. Passado alguns anos toquei algumas músicas dele em casamento. Mas até hoje nunca obtive um CD dele. Respeito como músico e astro da music business, mas para mim é indiferente, porque não está no meu catálogo de artistas que estudo, pesquiso ou paro para escutar. Na música pop, eu me influenciei por outros nomes. Acredito que o Kenny G é um cara do bem e encontrou a forma dele de viver, fazer música e influenciou um grande número de músicos nas últimas três décadas. Então tem sua importância para muitos. Eu acabei me ligando mais ao Coltrane, Brecker, Branford, Mintzer, Redman, Rollings, Bengonzy, Garrett, outras linhas de som e de produzir música. Esses me encantam até hoje e presto total reverência ao ouvi-los, porque trataram a música como destino final e não como meio.
Pergunta: com quanto tempo de estudo no saxofone você começou a ter condições de ser um profissional?
Resposta: quando comecei a tocar sax aos 18 anos, já foi imediato. No mesmo mês fiz meu primeiro show do meu trabalho com Genil Castro Romulo Duarte Leander Motta e um mês depois estava gravando no CD da @ocbrass_brasilia. O ano de 1994 foi um ano bem agitado porque tinha muitos trabalhos noturnos em Brasília. Muitas casas como Gate’s Pub, Scholobs, Woodstock e alguns outros.
Pergunta: acha válido comprar um Aerophone para estudar/tocar de noite?
Resposta: muito válido. Você vai ter ótimas experiências nos estudos com ele.
Pergunta: gostei da sua reposta sobre religiosidade. Pode falar um pouco mais? No que você acredita e no que não.
Resposta: prefiro dizer sobre o que eu busco. O que acredito ou não, ou mesmo como acredito é muito complexo para dizer aqui. Mas sempre busquei o conhecimento e entendimento das coisas. Prefiro a espiritualidade do que a religião, então pelo foco da espiritualidade, sou um aprendiz eterno das coisas metafísicas. Tudo que sabemos por aqui, eu entendo que é muito reduzido da verdade maior. Então hoje eu me coloco como apenas um aprendiz do que for possível aprender. Uma coisa posso afirmar: Já estudei mais teologia do que estudei música na vida. Passei 7 anos de 2001 a 2008 buscando conhecimento e vivendo a fé de forma mais sincera do que já fiz sobre qualquer coisa hoje, porém assim como na música, quanto mais você busca mais camadas se descortinam e aí não dá para ser sincero sem criar polêmicas, por isso assumi uma postura de guardar minha espiritualidade para mim, e compartilhar com todos apenas o que pode ser compartilhado, para isso tenho a música como código melhor e mais pacífico de comunicação humana e transcendental.
Pergunta: fale um pouco sobre seu processo de composição.
Resposta: depende de inspiração, trabalho encomendado ou provocar o ato. Para mim, depende dessas três coisas. A partir daí, é um campo vasto de possibilidades. Mas me baseio sempre em melodias ou ritmos. Quase nenhuma composição minha foi baseada em harmonia, com exceções para aquelas que são contrafato de algum tema.
Pergunta: qual dos dois você indicaria? Akai EWI ou Roland Aerophone? Pela sua experiência nos dois...
Resposta: são resultados e experiências diferentes. O preço é próximo, mas tem uma diferença básica. O chaveamento e oitavas. O EWI tem o rolamento com 8 oitavas e posições idênticas em cada oitava, já o Aerophone tem a mecânica idêntica a do saxofone e até os recursos da oitava superior podem ser aplicadas em cada oitava. Se for saxofonista, é uma ótima opção, já o EWI pode ser mais geral. O Aerophone tem de 5 a 6 oitavas.
Pergunta: tem dificuldade em gravar os intervalos característicos dos modos litúrgicos? Alguma dica?
Resposta: O ideal é aprender e colocar em prática. Se você aprende a informação e não estuda, logo vai esquecer.
Pergunta: há quanto tempo você é endorser da Selmer e da Vandoren? E qual foi sua reação ao receber os convites?
Resposta: desde 2014. Foi uma honra receber o convite das maiores marcas de saxofone, palhetas e acessórios do mundo em praticamente uma mesma oportunidade.
Pergunta: você toca flauta transversal ou já tentou tocar? Achou muito diferente do sax?
Resposta: toquei com o Alexandre Pires em 2017. Tenho que estudar mais. O dedilhado é próximo do sax mas a embocadura, apoio e direção de ar por ser embocadura livre é bem complexo para mim. Porém consegui fazer os trabalhos na época. Quando eu tirar o aparelho do dente, vou voltar a estudar.
Pergunta: qual estudo de resistência você indica para quem aperta a embocadura (nos agudos)?
Resposta: são coisas diferentes. No agudo não tem nada a ver com a resistência, mas sim com o posicionamento correto dos lábios, pressão exata e velocidade do ar. A resistência não vem de estudar agudos, mas de estudar graves médios.