Quero expressar aqui minha percepção sobre como tenho visto a educação musical hoje em dia no Brasil.
Somos um país onde a educação musical é precária, não é estabelecida como educação no ensino fundamental e por isso os nossos talentos sofrem rebolando pra poder encontrar mestres, professores, dicas, enfim, um caminho viável para o estudo. Muitos sobrevivem a base de dicas, mas dicas não são base para um caminho, muito embora o caminho de cada um é único.
O meu mesmo foi bem diferente se comparado a um músico norte americano, cubano ou mesmo europeu.
Considero também que há 20 anos atrás, quando a internet ainda não era um canal mundial de informação e comunicação, as dificuldades eram bem maiores para se obter algo, talvez nossa fidelidade com a música era maior. O tempo se moldava melhor apesar e grande era a sede por novidades, assim como é hoje, mas o acesso era muito restrito.
Enfim, cada músico constrói o seu caminho no aprendizado, até porque aqui no Brasil não somos incentivados ao profundo estudo na base, e por isso somos improvisadores natos até mesmo nos estudos musicais. Apesar de termos grandes e excelentes escolas e universidades, a oferta é muito pequena em relação à procura, fator este que lança milhares de músicos na internet a procura de informações e dicas mais precisas. 
Nossa própria musica brasileira não é estudada nas bases colegiais, e nem temos muito conteúdo nas universidades sobre o que é produzido pelos artistas renomados da nossa música, e quando falo artistas me refiro aos grandes músicos, aqueles que produzem material com grande valor de conteúdo a ser pesquisado. Sendo assim existe uma dificuldade da parte de cada músico ou professor quando questionado nas mensagens inbox por aqui ou por e-mail, porque ao sermos questionados por amigos e alunos em busca de dicas, nem sempre estamos prontos para atender ou satisfazer os colegas que prontamente buscam informações, pois algumas informações necessitam de tempo para avaliar melhor a causa, principalmente quando lida sobre o contato com o instrumento, e com isso todos correm o perigo de destinar uma informação isolada de um contexto e essa informação entrar erroneamente em outro contexto didático ou social.
São apenas percepções de quem está prontamente aqui para ajudar no que for possível, mas percebo a enorme carência que nosso sistema de ensino nacional tem com relação a música, pois a nossa própria música não é reconhecida de forma acadêmica e às vezes parece até que quando se usa a musica brasileira como prática em algumas escolas de música ou na rede pública de ensino, parece que só é dada a noção de música brasileira como folclore, sem exageros e extremos é claro, mas percebo que se nomes como Chiquinha Gonzaga, Cartola, Villa Lobos ou Pixinguinha fossem levados a sério primeiramente pelos ministérios da cultura e educação, parte do direcionamento do que temos hoje como realidade nas escolas e na cabeça de muitos jovens poderia ser diferente.
Tudo de forma superficial acaba por se estagnar na superfície das coisas. Essa consciência de mudar a base de ensino e reconhecimento não virá dos ministérios e nem de um presidente da república, mas acredito muito que virá da consciência da nossa própria classe e também do nosso senso de organização. Eles não conhecem nossa voz e por isso não mudam nada que não os incomoda. Precisamos nos posicionar sobre o futuro da nossa classe, da nossa profissão e sobre o reconhecimento dela pelo estado, para que não somente o nosso futuro seja diferente em relação a nós, mas também que o futuro da nossa música seja diferente para os milhares de jovens e crianças que sonham ou nem sonham ainda em ter contato com a arte musical. A mudança do nosso país e especificamente da nossa classe musical sempre estará em nossas mãos. Sonho com uma realidade diferente para minha cidade e minha nação quando o assunto é música, mas sei que parte disso está na mudança com relação ao sistema de educação. Algumas coisas pontuais devem ser feitas e tratadas com mais respeito, mas apelo aqui para que olhemos para a necessidade de valorizar a nossa música e tudo que é produzido nela, bem como o conhecimento acadêmico e de todo seu conteúdo nas bases escolares a começar pelas crianças, para que essas tenham conhecimento real do que é a música e que não sejam enganados com falsos conteúdos musicais nas escolas. Desejo de coração que essa realidade seja alterada profundamente, seja lá o que for preciso fazer, se por meio de consciência, leis, movimentos, ongs, oscips ou associações, mas o que imagino é que as coisas se alinhem.
Talentos, reconhecimento, salários melhores, melhores investimentos no setor, enfase no ensino do conteúdo da música brasileira nas escolas e universidades, pois com isso veremos que a nação brasileira pode influenciar muito mais o mundo não só com futebol, mas com música sendo instrumento de profundas mudanças na humanidade.
 
Utopia? Penso que depende de nós.
 

 

O futuro sempre chega, mas o que estamos produzindo para quando ele se tornar presente?